terça-feira, 26 de janeiro de 2010

30/Agosto/1997 - (Parte II)

Meu gurí, tão pequenino, veio como de costume procurar a mãe. E certamente a encontrou inerte, nua, no chão do banheiro. Ao ver que ela não respondia ao seu chamado, foi ao armário de remédios que se encontrava na cozinha, puxou uma cadeira e começou a fuçar por lá, com a inocente intenção de medicar a mãe.
Dona Cida, uma ajudante "anjo" que trabalhava comigo nessa época, ouviu o meu filho pedindo, com um copo nas mãos:
- Dona Cida, pega um pouco de água pra mim dar um remédio pra mãe.
Estranhando ela perguntou:
- O que aconteceu Gustavo?
E o inteligente menino respondeu apavorado:
- Ela está no chão lá no banheiro...
De imediato, Dona Cida foi até onde eu me encontrava e começou a tomar as providências necessárias. Arrastou-me nua até a cama e por lá me vestiu.
Lembro-me que comecei a retornar à consciência, mas a dor era por demais terrível, ela não permitia que eu ouvisse sons, sentisse algum cheiro, visse a claridade e sequer permitia que eu "pensasse" em pensar...
Agonia extrema, eu diria até que era pior do que um abismo. Eu me sentia como um vulcão prestes à explodir. Explodiria dores, veias, sangue, olhos, vômitos, Maria de Fátima em todas as direções!!
Então, em razão de Dona Cida ser analfabeta, meu gurí ligou ao pai pedindo socorro e depois ligou para a Santa avó (minha mãe) que tanto nessa vida já nos socorreu...
Meu ex marido chegou em casa (e eu na penumbra do quarto), minha mãe também chegou acompanhada de minha cunhada que fora buscá-la. Lembro que ofereciam coisas de comer e eu murmurava:
- Não falem de comida, não coloquem panelas no fogo, não posso sentir cheiro. Não falem alto, não posso ouvir sons. Não entrem no quarto, não quero sentir vossos perfumes. Eu preciso urgente de um médico pelo amor de Deus...
O pai de meu filho tentava inutilmente conseguir uma ambulância. E tentava, tentava, quanto mais tentava menos conseguia.
Lembro vagamente que uma amiga chegou em minha casa, ela estava de malas prontas para a viagem que faríamos a Foz do Iguaçú e em sua boca continha uma bala mentolada. Solícita, entrou em meu quarto e aproximou sua boca de meu rosto dizendo palavras confortadoras que não lembro quais eram, mas lembro muito bem do enjôo que tal bala provocou em minha pessoa e, com dificuldade vomitei em jatos. Jatos poderosos, em todas as direções.
Minha paciência pela ambulância e consequente socorro médico acabou. Paciência que nunca tive. Cadê ela? Onde? Isso existe? Chega! Por volta de 12:30hrs levantei-me segurando nas paredes e cobrí meus olhos com um pano preto, alguém perguntou onde eu ia e respondí:
- Ao hospital, é claro.
Na direção do veículo seguia meu ex-marido e no banco do passageiro ia euzinha rezando pra que no caminho não encontrássemos sequer um buraco no asfalto. Minha mãe ficou na minha casa, junto com a empregada e meu filho.

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