quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

1997 - (Parte I)

28/Agosto/1997 - Quinta-feira, por volta de 19:30hrs.
Limpava morangos na pia da cozinha, enquanto pai e filho (este último com 4 anos) brincavam de correr frenéticamente um atrás do outro em enorme gritaria. De repente, sentí uma espécie de dor forte, como se fosse uma garra a apertar-me fortemente na têmpora esquerda. Escureceu-me a visão, entontecí, tentei respirar pausadamente e terminei por buscar o conforto em minha cama. Vestia roupa desconfortável, calça jeans e blusa apertada, e não costumo jamais dormir em tais condições, todavia, lembro vagamente de ter ouvido o meu ex-marido explicar ao nosso único filho que pelo visto mamãe ia dormir e que era para eles a deixarem em paz.

29/Agosto/1997 - Sexta-feira
Acordei do torpor somente no dia seguinte, tive uma noite tomada por sono profundo. Mas, a dor de cabeça que havia sentido alí permanecia, forte, intermitente, generalizada (sequer compreendí como havia dormido acometida por tantas dores).
Lembrei-me que desde criança eu reclamava dos meus incômodos na cabeça e sempre vinha alguém dizendo:
- Eu também!!
E eu, na minha santa inocência pensava que isso era um bom sinal, sinal de que todos tinham dores naquela região e meu ladinho Pollyanna dizia:
- Que bom! Eu tenho cabeça...
Passei o dia muito mal e acabei por ligar à uma amiga, médica oftalmologista, explicando o que sentia, ocasião que ela disse que tudo indicava ser uma espécie de enxaqueca, receitando alguns remédios e cuidados.
Isso tudo aconteceu na sexta-feira, sendo que no dia seguinte, meu marido participaria de uma Convenção de Empresários Paranaenses na cidade de Foz do Iguaçú (distante 300 km de minha cidade), hospedagem em hotel luxuoso e provavelmente compras no Paraguay e Argentina. Eu pretendia acompanhá-lo e a futilidade ficou engavetada, pois eu sabia que com aquela dor não seria nada agradável viajar.

30/Agosto/1997 - Sábado.
No sábado acordei muito disposta. Faminta, tomei um café reforçado e pensei com meus botões:
- Nossa, mulher quando quer passear é capaz até de sarar de seus males...
Liguei para minha mãe e perguntei se ela cuidaria do meu filho para que eu pudesse viajar. Ela concordou e eu fui tomar um banho por volta das 08:30 da manhã.
Sempre deixava a porta destrancada, pois meu filho não saia do meu pé, sempre com suas conversinhas. O banheiro era muito grande e, logo após banho tomado comecei a enxugar-me... Foi quando sentí algo muito estranho na cabeça, um enorme anzol afiado fisgou-me a boca e levou-a de encontro ao olho esquerdo. Minha boca literalmente beijou meu olho esquerdo que contaminado pela fisgada contraiu-se também...
Tal olho finalmente comunicou à têmpora toda dor imaginável, e essa mesma ou talvez pior dor, esparramou-se de forma meteórica por todo o cérebro, derramando-se as dores, como enxurrada na nuca... Escoava, mas não cessava, só progredia.
Tudo escureceu e, eu nua, desmaiei no mármore frio do banheiro.

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